28 de Março.
A madrugada estava fria. O céu escuro. Não haviam vestígios de quaisquer estrelas já há horas a fio.
Apesar
da falta do meu manto de ninja sobre os ombros, não conseguia sentir o
gelo que vagueava pelo ar da noite. Este cortava, magoava, estalava os
nossos ossos. Mas eu permanecia completamente intacta. Plenamente
absorvida no meu cubículo. Em silêncio. Muda para os demais.
Entrara
há duas horas no patamar dos meus dezasseis anos. Longe da minha
família, de todos os que mais amava, sabia que a protecção era algo que
pouco podia esperar. Mas que poderia fazer para mudar isso? Nada.
Estávamos
em guerra com Otogakure no Sato há mais de três anos, desde que o seu
Otokage, Orochimaru, traíra Konohagakure para tentar apoderar-se dela e
dos seus. Mas, sem sucesso, Orochimaru vira cada um dos Ninjas da minha
Aldeia lutar até às últimas forças do seu corpo e até ao último ponto de
chakra ao invés de se juntar às suas trincheiras imundas. Isso
deixara-o cada vez mais denegrido, mais desesperado. Mas não o fazia
cessar as retaliações que exercia sobre nós, sem dó nem piedade. No
entanto, havia alturas que as forças do bem permaneciam intactas a tais
ataques. Como naquela noite.
A Team Kakashi havia sido recrutada
para procurar um dos esconderijos de Yakushi Kabuto e da sua Equipa.
Segundo as informações que haviam sido reunidas e fornecidas a
Tsunade-Sama, ele, juntamente com os seus seguidores Yoroi Akado e
Misumi Tsurugi haviam-se separado de Guren e da sua Equipa durante o
nosso último ataque à Aldeia do Som. Havíamos, portanto, sido mandados
para descobri-los e terminar o que havia sido começado há poucos dias
atrás.
Naquela mesma madrugada, eu treinava a uns quantos metros
dali, tentando fazer o mínimo barulho possível. Kakashi e Naruto
dormiam, estávamos todos cansados da viagem e ambos haviam trocado de
turno de vigia comigo e com Sasuke há coisa de mais ou menos meia hora.
Os meus golpes eram sérios, duros, como integrados numa batalha
verdadeira. Mas nem isso me impedia de ser alvo de chacota do mais novo
membro do Clã Uchiha.
– Partir pedras? Fala a sério, é só isso que sabes fazer?
Não
foi o seu comentário que me fez parar. Muito menos o tom depreciativo
com que o lançara às minhas costas. Acabara de quebrar todas as rochas
daquela encosta e necessitava de mudar de sítio. Não respondi.
– Ena, ficaste amuada, foi?
Senti os seus passos enquanto me seguia, aqueles braços cruzados sobre o peito como já era seu costume desde que o conhecera. Ele achava-se sempre tão importante!
–
Queres ajuda? Posso ajudar-te a aprender a treinar qualquer coisa mais
útil do que transformar calhaus em pó. Sabes... O que estás a fazer é
tão básico que eu tirei nota 20 a fazer o mesmo na Academia.
Suspirei. Porque é que ele não me deixava em paz, afinal?
– Ao menos, sê educada. Responde!
–
Eu não preciso de ajuda nenhuma! - Virei-me para ele, agarrando-o pelos
colarinhos e empurrando o seu pescoço até ao tronco da árvore mais
próxima - E, se queres saber, aposto em como te venço com as duas mãos
atrás das costas com a maior das facilidades.
Ele riu-se. Um riso meio... Irónico. Quase como se o fizesse para troçar de mim.
– Uhhh... Força nisso... Testa larga.
Por
momentos, larguei-o. Depois, não sei bem o que se passou. Num instante,
encarava-o. No seguinte... O lado direito da sua cara estava esmagado
pelo meu punho.
Ele não podia ter-me chamado aquilo. Tudo menos aquilo.
– Tu... Nunca mais... Me dirijas a palavra.
Virei costas, tentando ignorar os flashes
momentâneos pelos quais era assaltada. Tentando esquecer o quanto era
ignorada na minha infância, o quanto as outras crianças se afastavam de
mim por causa de uma coisa tão estúpida como o tamanho da minha testa.
Tentando esquecer que só uma pessoa sempre se importara comigo. Pelo
menos, até ela me virar as costas. Ainda por cima por algo que eu nem
sequer tinha ideia o que era.
Mas, de súbito, ele apareceu à minha frente. Os seus olhos encararam os meus. E eu senti-me diferente. Estranhamente diferente.
– Parece que agora é a minha vez.
Desviei-me
quando o punho dele passou de raspão à minha cara. Os seus golpes não
me davam tempo de ripostar e cada vez me imobilizavam mais. Confesso que
ele dava luta, uma grande luta mesmo. Atacava sem parar, sem dar
descanso, tanto que não sabia exactamente quando as minhas costas se
haviam começado a encaminhar em direcção à árvore contra a qual eu o
estatelara, minutos antes. Só quando me senti presa entre as rugas
daquela madeira suja e o seu corpo, me apercebi do perigo em que me
encontrava. Mas, ao contrário do previsto, ele parou. E voltou a
olhar-me. Da mesma forma que fizera, há alguns momentos.
– Já acabaste?
O seu sorriso irónico voltou a aparecer.
– Ainda não.
Senti-o
aproximar-se mais, enlaçando a minha cintura e puxando-me na sua
direcção. Os nossos lábios encontraram-se, primeiro forçosamente, e
depois de uma forma tão gostosa que me dava vontade de nunca mais parar
nem sequer para poder respirar.
– Hmm...
Era uma parvoíce a
forma como eu me sentia nos seus braços, aquilo que o facto de estar a
beijar-me daquela maneira me levava a fazer. A forma como eu
correspondera passados uns segundos às suas investidas fazia-me soar
a... Fraca? Imbecil? Traidora aos meus ideais? Ou talvez as três coisas juntas?!
Empurrei-o, de novo, não perdendo tempo antes de retomar o ataque. Ele ia pagar por me ter feito aquilo, oh, se ia!
O
mais estúpido no meio de tudo é que ele parecia achar uma extrema graça
ao meu acesso de fúria. E isso deixava-me ainda mais desejosa de me
vingar por aquele beijo.
– Sabes que ficas ainda mais gira quando te enfureces?
Ok, é desta que vou matá-lo!
– Estúpido! Odeio-te...!
Calei-me
mal os seus braços me agarraram, uma vez mais. A mesma força, a mesma
proximidade, o mesmo olhar penetrante e desejoso de um beijo que ele me
lançara anteriormente. Oh não, eu estava louca!
– Tu queres, eu sei que me queres...
Senti as pernas tremerem quando aquele imbecil me roubou outro beijo. E outro. E outro. A situação estava a descontrolar-se.
Embatemos
contra a árvore mais próxima com toda a força. As minhas mãos entravam
no seu manto fazendo com que este lhe caisse pelos braços musculados e
deixasse exibir o seu peito bem definido. A sua boca parara no meu
pescoço, ia roçando pelo meu queixo, acima, abaixo e de novo acima,
fazendo-me delirar com o toque. Eu gemia. Baixinho, bem baixinho, só a
deixar-me levar por aquela sensação de prazer estrondoso.
Caramba... Aquilo era tão bom...
– Sakura-Chan? Sakura-Chan! Acorda!
– Hum...
Mexi-me
no meu canto ao ouvir a voz de Naruto. Abri os olhos. Vagueei-os à
minha volta, tentando focar nitidamente o sítio onde estava. Não me
lembrava. A única coisa que recordava era... Porque raio tinha eu sonhado com aquele idiota?!
– Schh... Não faças barulho. O Kabuto e os outros estão aqui.
Fiquei alerta, de repente. Levantei-me. Procurei a minha kunai dentro da bolsa e segui Naruto até ao paradeiro de Kakashi. Ele estava sozinho.
– Eto... Onde está o Sasuke?
– Caluda. Estejam atentos.
Kakashi-Sensei
encaminhou-nos para trás de uma das portas e, de olhos pregados em
qualquer uma das três dispostas à nossa frente, segredou simplesmente.
– Naruto vais à direita, eu vou à esquerda. Sakura, ficas com a do meio.
Tanto
eu como Naruto acenámos àquela ordem, apesar que qualquer um de nós nem
sequer se atrever a tirar os olhos daquelas portas, tal como Kakashi
fizera. Aos três, separámo-nos. Agora, era cada um por si.
A
divisão onde eu entrara era escura. Tão fria como eu me lembrava do ar,
lá fora. Cortante. Enregelada. Vazia. Havia uma esquina pela qual me
aventurei e que dava acesso a um local que parecia não fazer parte do
mesmo sítio. Estava de pantanas mas era recheado de mobílias velhas e
lixo. Muito lixo espalhado à minha volta, pelo chão. Baixei-me para
pegar num pedaço de pano que ali estava e parecia ter sido rasgado de um
manto velho. Estava molhado mas não dava para perceber pelo quê.
Avancei para a única luz que provinha de um candeeiro meio fundido na
parede mais funda da divisão. Vi a minha mão manchada. O pano estava
minado de sangue.
Olhei em volta, de novo, enojada.
– Não esperava este presente.
Conhecia aquela voz de algum lado...
– A sério, estava na esperança que o Kakashi escolhesse o Naruto para vir nesta direcção. Ou talvez quem sabe... O Sasuke-Kun.
Isto não ia correr nada bem...
– Kon'nichiwa, Haruno.
Era suposto eu ser simpática com ele? Educada? Não me parecia.
– Kabuto.
Empenhei a kunai na sua direcção.
– Quem pensas que sou? Não vou lutar contigo, vamos lá.
Olhei-o, sem perceber.
– Não?
Algo soava bastante estranho ali...
–
Não. Pelo contrário, tenho umas calorosas boas vindas para te dar.
Visto que o Kakashi te mandou aqui ao invés dos seus outros dois
discípulos, terei de alterar o plano inicial. Rapazes, podem dar-me uma
ajudinha?
Olhei em volta. Vi Yoroi e Misumi aparecerem ao seu lado. Céus, isto não ia ser nada bom, mesmo.
– Tens companhia, é? Achas que isso me assusta? Tens tanto medo de perderes com uma mulher que não aguentas a luta sozinho?
– Não, Haruno, apenas... Como já te disse... Tenho outros planos para ti - Vi-o olhar para os outros dois, à vez - Agarrem-na.
Tentei
soltar-me quando os vi vir na minha direcção. Teria conseguido sair
dali se Misumi não me tivesse encurralado à porta e Yoroi não começasse a
sugar o meu chakra para me enfraquecer.
– Larguem-me!
– Tragam-na para aqui.
Sentia
o corpo cada vez mais fraco. Conseguia lutar, mas não com a mesma força
bruta de antes e quando eles me arrastaram até Kabuto não consegui
parar. Encurralaram-me na única mesa daquela sala imunda. Misumi rasgou o
manto que me protegia as costas do frio, deixando-os ver tudo o que
trazia comigo. Não que isso os ajudasse em alguma coisa, mas...
– Ora, ora, ora...
Tentei soltar-me quando Kabuto meteu a mão na minha bolsa.
– Para que resistes se não tens aqui nada de útil? Vocês de Konohagakure são demasiado estúpidos, realmente.
Os outros riram-se. Misumi afrouxou um pouco o aperto que exercia no meu braço para me imobilizar devido à distracção.
– Bem... Mas já que não tens nada de útil aqui, podemos ver o que tens... Dentro de outra coisa.
Olhei-o, confusa.
– O que é que queres dizer com isso?
O seu sorriso maníaco assustou-me. Fez sinal aos dois que me agarravam.
– Segurem-na.
Ainda
não percebera onde ele queria chegar. Olhei-o de alto abaixo, tentando
descobrir o que raio estaria a... Estão a gozar comigo! Ele estava a desapertar as calças?!
– Isto é capaz de doer um bocado, Haruno.
Misumi
e Yoroi continuavam a rir-se. Quanto a mim... Quanto a mim, dei por mim
mesma a tremer, de repente. Não, ele não ia fazer aquilo, nem pensar.
– Se fosse a ti não tentava isso.
– Ai não? - Perguntou ele, enquanto levava a mão aos meus calções - Senão fazes o quê?
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