Chapter Seven

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |

Fechei a porta atrás de mim, olhando as pessoas à minha frente. Sorri. Sempre igual. Sempre o mesmo conflito interno. Sempre a mesma confusão. Sempre a mesma pressa… enfim. Sempre a mesma merda. E eu apenas me juntei a ela, caminhando a passos largos pela rua comprida, olhando em frente.

Eu odiava que fosse assim. Odiava que eu fosse igual. Não. Na verdade eu não era. Eu era pior. Eu não tinha pressa para chegar a casa. Não tinha pressa para abrir a porta de casa e ser recebido pelo meu filho a saltar-me para os braços, a gritar “Pai!”. Eu não tinha pressa para receber um beijo da minha mulher sorridente por me ter finalmente ali, na nossa casa.

E muito menos pressa tinha para chegar a casa e ser recebido por um abraço da minha mãe. Ou do meu pai. Não tinha pressa por ver o sorriso deles ao sentirem-se preenchidos, com o filho em casa depois de um dia de trabalho.

Eu tinha pressa sim. Para sair do meio de gente com pressa de chegar a um sítio bom. Eu tinha pressa para chegar a casa, contemplar o silêncio, ir para o meu quarto, fumar 3 cigarros, escrever no meu diário e dormir até serem horas de ir buscar Caroline.

Uma rotina. Sempre o mesmo. Suspirei, cansado. Os meus passos aceleraram. Eu nunca seria um homem com mulher e filhos em casa à espera. Eu seria um homem que carrega revolta suficiente para matar alguém que se diz ser meu pai.

Pela primeira vez na caminhada, encarei o chão. Não por pena do que eu sentia. Eu não tinha problemas em admitir que mataria o meu pai. A única coisa que… me fazia vacilar… era lembrar-me do antigo Tyler.

Um homem… feliz. Alguém com futuro. Alguém que sabia o que queria. Alguém… alguém que tinha pressa para chegar a casa e ser recebido pelo abraço da mãe, sorridente, contente pelo filho estar em casa depois de um dia de trabalho. É. Eu costumava ter essa pressa.

Ergui a cabeça ao lembrá-la. Eu sempre ergueria a cabeça quando o fizesse. Iria sempre olhar em frente ao pensar na minha mãe. E iria sempre sorrir ao dizer que ela era minha mãe.

Era...

Suspirei. Não. Eu não era fraco. Não ia fraquejar agora.

Engoli seco e aumentei a velocidade. Queria o silêncio, o diário, os cigarros.

- Tyler! Tyler! – Ouvi o meu nome numa voz conhecida.

Automaticamente parei e olhei-o, cortando pelas pessoas até chegar a ele.

- Aidan. – Abracei-o, realmente feliz por o ver. – Então como vai isso?
- Vai bem meu, sempre bem. E tu? – Ele riu. – ‘Tás com cara de quem não comeu ontem à noite.

Mallory. Oh, obrigado Aidan.

- Nah… nem por isso. – Ri.
- Ela fez-se de difícil, foi?

Oh. Então não…

- É. Foi exactamente isso.
- Lamento. Existem outras. E melhores. – Gargalhou, entusiasmado.

Eu forcei o riso. O que ela estaria a fazer? Sozinha? Aonde?

- Eu ia-te ligar meu. – Comentou, mais calmo.
- A cama partiu-se? Eu avisei-te que ela chiava e que quando partisses uma qualquer em dois em cima, quem ia partir era a cama.

Ele olhou-me sério por segundos. E caiu na gargalhada.

- Tyler, Tyler… sempre o mesmo. – Falou entre lufadas de ar.
- É. – Sorri.
- Mas meu, ia-te ligar para passares por lá. Quero mudar umas coisas na casa. E como tu me ajudaste na compra eu pensei que…
- Sem stress, Aidan. Podes mudar tudo. – Dei de ombros.

Ficou a olhar para mim, verdadeiramente sério. Abriu a boca e fechou-a. Quando falasse, ia sair asneira.

- O teu pai? – Perguntou por fim.

Engoli seco. E… nada. Foi tudo o que eu senti.

- Vive. – Murmurei.
- Tyler… porque não vens viver comigo? Comprámos esta casa juntos, lembraste? Combinámos que ias para lá quando as coisas acertassem. O teu pai… ele só faz merda. Tu ficavas bem comigo.

Baixei a cabeça. Pela segunda vez. Ele estava certo. O meu pai só conseguia fazer-me… mal. Eu nunca seria alguém naquela casa, com ele. Mas por Caroline… por ela, eu faria isso.

- Está tudo bem. – Sorri.
- Eu sei que não está. E sei que não vais dizer nada mais. Então… tu tens as chaves. Sabes onde é. Sabes que eu estou lá.

Assenti, sorrindo-lhe.

- Por falar nisso… não queres ir lá agora? – Ele perguntou.
- Eu… - Olhei o relógio. Ainda era cedo. – Sim. Posso ir.

Ele riu. Aidan era como um irmão. Conhecia-o há… anos. Desde que me conhecia a mim. Passava semanas, meses, sem lhe falar. Mas sempre sabíamos que um estava lá para o outro. É disso que deve ser feita a amizade. Não é?

Mal entrámos em casa, a primeira coisa que ele fez foi pegar em duas cervejas para nós e ligar a televisão num jogo de futebol qualquer. Olhou para mim, levantando a cerveja.

- Velhos hábitos? – Perguntou.
- Velhos hábitos. – Concordei rindo.

A tarde fugiu da rotina. Mas não muito. Aquela era uma antiga rotina. Era normal fazermos aquilo. Desde que… o Michael morreu. Michael. Há quando tempo é que eu não falava dele? O meu irmão. A causa da depressão e morte da minha mãe, anos depois. Ela sempre dizia que nunca fora boa mãe o suficiente para o impedir de se meter em tudo o que acabou com a sua vida.

A parte da minha vida que eu queria ter de volta. A parte da minha vida que me garantia que eu teria pressa para chegar a casa e ser recebido pela minha mulher e os meus filhos. A parte da minha vida que me garantia um futuro bom. A parte boa.


***

Mallory. E então ela apareceu. Falou-me. Seduziu-me. Provocou-me. Fez-me querê-la mais do que alguma mulher algum dia fizera… E ao mesmo tempo, conquistou-me de alguma maneira. Com o seu olhar verde, manchado por maquilhagem pesada que lhe dava a maturidade que ela não tinha. Com o seu sorriso praticamente escasso nos lábios. Com a voz que eu consegui mudar de sedutora e sexy para frágil e indefesa. O rosto angelical e ainda assim maliciosamente chamativo. Os lábios… oh. Os lábios que eu provara. Tão doces, macios. Suculentos. Tentadores. O seu corpo praticamente nu. À mercê de qualquer toque masculino. O seu corpo que eu pude ter para mim por uma hora. O seu corpo que eu desejei cegamente…

Mallory. O pedaço de pecado que eu gostava de provar. O pedaço de pecado ao qual eu resistira. O pedaço de pecado que aparecera várias vezes, esvoaçante na minha mente, rodeado por perguntas, durante o dia inteiro. “Como ela estava? O que ela estava a fazer? Será que estava sozinha? Aonde? Será que ela pensava em mim? Será que ela se lembrava de mim o tanto que eu a lembrava?”

Mallory. A mulher que eu me vi obrigado a defender. A mulher que eu desejava ver de novo. A mulher que me fez pensar se quebrar as regras era tão errado assim. Eu ia quebrar. Eu ia tê-la ali. Naquele quarto nojento. Naquela cama imunda. Isso era justo? Ter uma mulher assim? Como o meu pai fazia? Não. Era uma merda que eu não ia repetir. Era uma regra que eu não ia quebrar.

Mallory. Eu estava vidrado nela, agora. Eu ia vê-la. Eu ia livrá-la de velhos ricos e nojentos. Eu ia fazê-la sorrir, enquanto o certo -para mim errado- era comê-la sem ressentimentos, como todos faziam. Não. Eu ia apenas… vê-la.

Mallory.


- Mano, mano! – Caroline entrou a correr e saltou para cima da cama, eléctrica.

Fechei o diário, pousando-o com a caneta na mesinha de cabeceira. Olhei-a e sorri, trazendo-a até o meu colo.

- O que foi, little princess?
- Hoje a minha professora disse que o meu desenho foi o melhor. – Ela confessou, orgulhosa.
- A sério? E onde é que está esse desenho?
- Queres ver?
- Claro!
- Anda comigo!

Levantou-se da cama e puxou-me pela mão com força. Eu ri e fui atrás dela para o seu quarto. Ela mexeu na mochila e entregou-me o desenho. Wow. Estava verdadeiramente perfeito. Eu sorri e abaixei-me a seu lado.

- Está perfeito. – Sorri, olhando-a.
- Gostas?
- Muito. Parabéns! – Beijei a sua testa.
- Obrigado. Hum… - Levou a mão ao queixo, numa expressão pensativa. – Vou-te fazer um desenho. – Disse animada.
- A sério? E como vai ser?
- Não te interessa. – Franziu as sobrancelhas, toda mandona. – Anda, sai daqui. Depois vês! – Fiquei parado até ela me empurrasse, sem efeito. – Anda Tyleeeer! – Bateu o pé quando reparou que não tinha força para me tirar lá.

Eu ri com ela. Sempre a mesma… Beijei o seu cabelo e levantei-me.

- Anjo eu vou sair agora. Tenho umas coisas para fazer. Depois… deixa o desenho aí em cima. Eu venho dar-te um beijo de boa noite quando chegar.

Pude ver a desilusão no seu rosto por eu não estar lá quando ela acabasse. Mas tinha de ser. Eu tinha de ir.

- Prometes vir aqui? – Perguntou baixo.
- Prometo.
- Está bem. Até logo.
- Até logo.

Ela sorriu e eu saí do quarto. Peguei no meu casaco e apressei-me para sair de casa. Eu estava a ir vê-la, sim.

A sala estava vazia, e eu dei graças a Deus por isso. Abri a porta e uma lufada de ar frio atingiu-me. Bleh. Frio.

- Onde é que vais, Tyler?

Claro. E eu a pensar que ele me ia deixar em paz uma única vez. Bufei e saí sem o olhar, batendo com a porta depois. Sempre a mesma merda. Ele provavelmente esperava a minha resposta como sendo algo do género “Vou matar-me”.

Suspirei e acendi um cigarro. Eu tinha que chegar lá rápido. Ela tinha de estar lá. Não a fu… bom, não em nenhum serviço. Odiava a possibilidade de ela estar com alguém. Simplesmente odiava.

Os meus passos eram grandes e rápidos. Chamem-lhe o que quiserem, desespero, ansiedade… loucura. Eu aceitava tudo. Porque na verdade… eu não sabia o que era. Eu só precisava certificar-me que ela estava ali.

O cigarro acalmou-me durante o caminho. Mas todo esse efeito foi para o inferno quando eu parei em frente à boate. Lá estava eu. De novo. Só mudava uma coisa. O porquê de eu estar ali. Agora… agora eu desejava algo. Ou alguém.

Entrei, passando pelo segurança grande. Não podia dizer se estava bem ou se estava mal. Estava acelerado.

Suspirei, antes de olhar em volta. Ambiente… igual. A mesma merda. Era… sujo.

Ignorei isso e procurei-a. Não estava no palco a mostrar-se. Obrigado Deus. Não estava numa mesa com alguém. Obrigado Deus. Mas… onde é que ela estava? Bufei, apreensivo. Será que ela…?

Olhei o bar e… woah. O cabelo castanho-avermelhado. A estrutura não muito alta. As costas quase nuas. Fiquei a olhá-la, deslumbrado com os seus movimentos. Ela estava de costas e não me via. Eu ficaria ali até que ela o fizesse. A admirá-la. Tão… diferente. Tão… incrivelmente encantadora. Tão…

Mallory…

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