Chapter Three

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |

Abri os olhos e imediatamente os fechei. Que luz era aquela? De manhã o sol nunca batia na janela de maneira a que atingisse os meus olhos. Virei-me de lado, contra a luz e abri um olho, encarando o relógio por vários segundos até perceber as horas que marcava.

Oh merda! O meu corpo foi atingido por sei-lá-o-quê do outro mundo e num segundo eu estava a correr pela porta do quarto fora. Quem é que me mandou dormir meia-hora antes de ir buscar Caroline?!

Corri para a porta da rua e só parei quando reparei que estava de boxers. Oh, óptimo. Sem dúvida que não chegaria à escola assim. A vizinha cuidaria de mim mal eu saísse da porta, levando a minha não-tão pureza para os infernos.

Insultei de todos os nomes que sabia a velha por não ter nada mais que insultar, enquanto me virava e corria de volta ao meu quarto. Foi quando ouvi a porta abrir. Rapidamente girei sobre os pés e vi o que eu chamaria de retrato feliz.

O meu “pai” a entrar ao lado de Caroline, que estava a rir.

- Urso! – Ela gritou e correu para mim, saltando num abraçado apertado ao meu pescoço.

Eu abracei-a, sem tirar os olhos do senhor que acabara de entrar.

- Porque foi buscá-la? – Perguntei grosso.
- Porque eu quis. E, pelos vistos acertei, se não o fizesse ela ainda estaria lá. – Ele pousou as chaves e deu dois exactos passos na minha direcção. – Estás a tornar-te irresponsável agora, Tyler? – Perguntou em tom irónico.

Caroline beijou o meu rosto e foi assim que ela me impediu de partir a cara do senhor. Eu decidi ignorar e olhei o meu anjo.

- A escola correu bem, anjo? Desculpa não ter ido buscar-te, acabei por adormecer. – Perguntei olhando-a só a ela.
- Sim, correu. Hoje eu escrevi um texto e li para todos. A professora disse que fui a melhor! – Ela sorriu, fazendo com que eu sorrisse ainda mais.
- A sério, anjo? Hum, queres ler para mim? Antes de fazeres os trabalhos de casa?
- Sim!
- Então vamos lá…

Virei costas ainda com ela no colo, eu ia ignorar mesmo aquele senhor que não tirava os olhos de mim.

- Além de irresponsável, estás a tornar-te ignorante? Sou teu pai, Tyler. Responde-me. – Perguntou em tom “severo”.

O problema é que esse tom não me atingia. Eu virei-me para ele e sorri, irónico. Olhei Caroline e beijei a sua testa.

- Vai preparar o texto para me ler, anjo. Eu já vou. – Sorri-lhe.

Ela olhou-me, sabendo o que ia acontecer. Eu coloquei-a no chão e ela foi para o quarto. Olhei o homem perante mim e aproximei-me dele, sem tirar os olhos dos seus.

- Sabe, Charlie… Eu realmente prefiro ser irresponsável e ignorante por um dia, enquanto o senhor tem sido isso por toda a sua vida. – Respirei fundo. – E outra coisa, um pai não vai buscar a sua filha quando e porque quer. Um pai vai buscar a sua filha por precisar vê-la, por precisar saber que ela está bem. Especialmente depois de tudo o que aconteceu. Agora Charlie, - Aproximei-me mais dele. – Não se identifique como meu pai em voz alta novamente, por favor. Isso envergonha-me, enoja-me e é totalmente desfavorável a seu respeito. Caroline é pequena e não precisa entender que de pai, o senhor não tem nada… Passe bem.

Virei costas e fui para o quarto de Caroline, sem ver a reacção dele. Não estava realmente interessado nisso. Entrei em seu quarto e fui até ela, que estava sentada no chão, entretida com os cadernos.

- Então… preparaste a voz para ler para mim? Eu vou avaliar. – Fiz a minha melhor cara de professor sério.
- Tyler… - Ela olhou-me e eu soube que não era do texto que ia falar. – O que falaste com o pai?

Às vezes eu odiava o facto de ela ser tão inteligente e de compreender tão bem o que acontecia à volta dela. Eu sentei-me atrás dela, abraçando o seu corpo pequeno.

- Nada de importante, anjo. – Sorri.
- Eu sei que vocês os dois…
- Schh. – Eu não a deixei continuar. – Esquece isso. Lê a tua obra-prima aqui para o urso. Eu estou curioso…

Ela sorriu e beijou-me na testa, num gesto protector. Como se soubesse que eu não estava bem. Pegou no caderno e eu olhei-a atento. Ela era linda. E minha. Eu dava a minha vida pela felicidade dela. Isso era a única certeza da minha vida.


***

Fechei a porta da rua com mais força do que o necessário. O sangue fervia dentro de mim. Charles decidiu ignorar-me e dar a atenção a Caroline durante o jantar. Podiam parecer ciúmes. Mas não eram. A verdade é que Charles estava a tentar conquistar a filha, a jogar. Para tirá-la de mim. Eu via o olhar desafiador que ele me lançava sempre que ela gargalhava por alguma coisa que ele falava.

Eu tinha medo de perdê-la. Tinha pânico da ideia de não a ter comigo. Era… doloroso imaginar.

Olhei o céu e lá estava a lua, as estrelas. Suspirei e continuei a andar. Sorri ao lembrar a maneira como Caroline me abraçou e disse que me amava minutos atrás. Não podia querer ouvir nada melhor que isso.

Andei um pouco e parei a olhar desinteressado para um poster na parede. Uma peça no teatro. Coisa sem graça. Bufei e continuei a andar, até esbarrar contra… um armário? Olhei para cima e vi um homem um pouco grande demais.

- À procura dos óculos? – Ele perguntou.
- Não.
- Quer entrar? – Virou-se para mim.

Só então olhei para cima e vi que aquilo era… um bar? Uma boate? Fitei o “armário”. Entrava? O que eu tinha a perder? Estava de facto a precisar de uma bebida.

- Quero.

Ele apenas deu um passo para o lado e eu entrei. Entrada livre, hum. Passei por outra porta e oh…. Interessante. Uma boate. Olhei as mulheres em cima dos balcões, praticamente nuas, a dançar de maneira provocante, criando um ambiente sexual, duas delas a fazer pole dance e todas rodeadas por homens sedentos, nojentos e raivosos, provavelmente com Sida, a querer tocar-lhes, enquanto batiam umazinha. Deveras interessante.

Eu devia olhar o banco onde me ia sentar, a verdade é que corria o risco de ficar colado à cadeira por causa de uma substância branca, dado o sítio onde estava.

Suspirei e fui para uma mesa um pouco afastado daquilo tudo. Não estava ali para arranjar uma mulher. Era tudo o que eu não queria. Uma mulher! Mulheres serviam para me irritar. E aquelas… na verdade, eu sentia por elas. Aquela vida não é fácil, tirando aquelas que gostam e que o fazem por amor ao trabalho, o que me parece… nojento.

Tinha prometido a mim mesmo, há algum tempo, não me envolver com nenhuma mulher. Só ia trazer problemas e dores de cabeça. Porque eu nunca conseguiria ter um relacionamento normal. Preferia ficar quieto, sozinho e sem mais esse problema na minha vida.

Eu gostava de sexo. Muito. Mas eu conseguia aliviar-me, sozinho. Não chegaria ao extremo de pagar para ter uma hora com alguém que não conhecia. Isso era… repugnante, a meu ver.

Bufei e olhei o bar atrás de mim, eu tinha que ir pedir? Isso era algo que sempre me irritava.

Voltei-me para a frente e imediatamente os meus olhos ficaram cravados no corpo à minha frente. A altura do meu olhar estava nos seios e eu forcei-me a olhar para cima. Ok, eu disse que não queria, não que não gostava de apreciar.

Quando finalmente a olhei não conheci o seu rosto das outras que estavam a dançar. Ela era… linda. Muito, muito linda. As luzes da boate faziam com que os seus olhos claros brilhassem de uma maneira… diferente. Ela estava a deslumbrar-me. Era isso que elas sempre faziam?

Então ela sorriu e eu vi-me… literalmente… hipnotizado. Tive a certeza que se fosse um velho porco ela já estava adquirida.

- Ei, boy. – Ela falou e eu sabia que a voz que ecoava sexo era típica para subornar os homens, tal como o olhar que gritava “come-me”.
- Olá… – Falei e sorri.
- Em que… posso ajudar-te? – Ela aproximou-se de mim, de modo a que os seus joelhos tocassem os meus. Eu olhava para cima, para os seus olhos.
- Eu… quero um uísque.

Ela gargalhou e abaixou-se, ficando à altura da minha cabeça.

- Nós somos especializadas em outras coisas, bad boy. – Levou o seu dedo para o meu maxilar, percorrendo a sua linha. – Eu, por exemplo, posso dar-te o uísque de uma forma… muito interessante. – Oh… a voz dela…

Quem eu era mesmo?

- Obrigado pela oferta… - Ri, insultando-me a mim mesmo pela minha estupidez. – Qual é o teu nome mesmo?
- Mallory. – Ela sorriu, baixando o dedo para o meu peito.
- Certo, então… Mallory. Eu quero o uísque num copo com 3 pedras de gelo. Por favor. – Engoli seco mal acabei de falar.

Eu sabia que aquela era a única forma de resistir ao que ela estava a tentar fazer. Eu não queria, mesmo.

Mallory aproximou-se de mim e eu vi-me indefeso e parado. O quê, agora eu era um adolescente com medo de ser violado?

- Acho mais saboroso fazer-te lamber o uísque… que estará espalhado por todo o meu corpo deitado numa cama… a ferver por ti. – Ela sussurrou no meu ouvido.

Onde estava o diabo? Eu tinha a certeza que morrera e que ela era um anjo negro, preparado para fazer-me perder a razão.

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