Chapter Two

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |


Faltavam-me insultos para poder caracterizar o filho da mãe que acabara de me trazer até casa naquele táxi nojento. Já andava há mais de meia hora depois de ele me ter deixado a pé e ainda tinha a mesma vontade de o esganar que me viera à ideia logo desde o início. Aqueles cabrões de Vegas eram ainda piores do que os que me habituara nos últimos 16 anos, antes de ir para ali. Ainda mais asquerosos e pestilentos. Ainda mais cruéis.

Aquele cabrão deixara-me sem nada, expulsara-me do carro depois de eu o mandar foder-se quando ele me tentou fazer isso a mim. Devia estar à espera que eu entrasse na dele na boa, só por diversão, sem haver nada em troca e da forma que ele queria. Mas eu não sou como as outras putas de Las Vegas, comigo não entram eles em brincadeiras. Eu não sou assim tão burra!

Só depois de estar abandonada no meio da calçada e me conseguir levantar, me apercebi que até a mala que Doug me havia oferecido ficara na traseira do táxi daquele estupor. Respirei fundo, furiosa. Contive as lágrimas durante os minutos seguintes e continuei a caminhar em direcção a casa. Nunca iria recuperar as minhas coisas, aquele filho da puta iria ficar a rir-se. Ah, mas ele havia de mas pagar! Ah, se havia, sim!


***

Quando cheguei à pensão eram perto de 8 da manhã.

A porta daquele corredor estava escancarada. O casal que vivia no quarto ao lado do meu passava a noite a snifá-las e depois era porrada dele nela até amanhecer. Isto quando não se ouviam gritos daquela cabra trespassando as minhas paredes, enquanto o gajo a papava. Ela costumava queixar-se a toda a gente que ele a obrigava, mas eu não arriscava nessa hipótese. Se ela estivesse assim tão farta dele já se teria vindo embora, tentado fugir, pelo menos. Mas a miúda era parva ou então devia ter ainda mais medo da bófia do que eu. Ou melhor, não que eu tivesse medo, apenas não confiava neles. Nunca resolviam nada e só serviam para nos empatar a vida. Só isso.

Deixei-me cair em cima da cama, tentando ignorar a discussão que já rebentara do outro lado da parede. Tapando a cabeça com a almofada, tentei dormir. Estava tão cansada que, apesar dos gritos, caí de vez para o lado nem passados 10 minutos.


***

As luzes espreitaram pelas persianas partidas da minha janela deviam ser por volta de umas 7 da tarde. Espreguicei-me e deixei-me rolar no colchão sem me preocupar com o lençol que, entretanto, caíra pelo chão e me destapara. Voltei a fechar os olhos, enterrando a cara na almofada, esforçando-me por voltar a adormecer… Em vão.

Virei-me no colchão, novamente. Estendi o braço, procurando o telefone ao meu lado ainda meio sonolenta e peguei nele, carregando apenas na única tecla de marcação rápida. Tecla número 5. Por nada em especial, apenas porque de manhã era a única que os meus dedos automaticamente conseguiam marcar por ser no meio.

Ouvi chamar três vezes até a voz de Lois me atender do lado oposto.

– Allison?

Suspirei, esfregando os olhos com o sono. Mesmo após tanto tempo, ela nunca desistira de me chamar aquilo.

– Oi Lois.

Senti um sorriso dela, vindo do outro lado.

– Estavas a dormir?

– Trabalhei até tarde. – Disse, simplesmente, não adiantando mais sobre aquele assunto. Ela pareceu perceber, pois também para ela a conversa morreu por ali.

– Tens estado bem?

– Sim.

Podia contar-lhe o que havia acontecido, afinal, era ela a única com quem podia falar sobre aquilo mas não queria preocupar ninguém. Lois e Doug já se preocupavam demais comigo. Eu não tinha o direito de promover ainda mais as coisas.

– Aconteceu… Alguma coisa, querida?

Raios, como é que ela conseguia fazer uma coisa daquelas? Como é que ela conseguia conhecer-me tão bem, adivinhar daquela forma tudo o que eu pensava nas alturas em que o pensava? Foda-se, era desconcertante ter alguém assim, às vezes!

– Está tudo bem, só estava com saudades.

Pareceu-me que Lois me respondera com um aceno do outro lado da linha, não voltando a manifestar-se nos 2 minutos seguintes. Depois, suspirou, acabando por responder baixinho.

– Nós também temos imensas saudades tuas.

Voltei a passar as mãos pela cara, completamente exausta.

– Falei com o Doug e… Pensámos ir visitar-te na próxima semana. O que achas?

E acordei quando ela disse aquilo, sentando-me de imediato no colchão.

– Não! Quero dizer… Quando quiserem eu mesma aí vou. Aqui, a… A casa é pequena demais e… Não tenho cama nem quarto para vocês.

A sua voz pareceu responder-me com um sorriso e eu senti-me uma menina que é, subitamente, apanhada a mentir pela mãe.

– Ora, Allison… Como se isso fosse um problema…

– Para mim é, Lois! E não quero discutir!

Ela calou-se. Era sempre assim que eu evitava que os assuntos entre nós duas fossem além da amizade que tínhamos uma pela outra. Gritando com ela, discutindo com ela. Era o melhor. Assim não lhe dava esperanças referentemente a nada. Não lhe dava esperanças relativamente a mim, principalmente.

Ainda permaneci mais uns minutos ao telefone. Lois continuava sem responder e eu imaginei que tivesse conseguido fazer merda mais uma vez, por isso limitei-me a engolir em seco, conjuntamente com o choro. Eu não ia chorar. Não enquanto ela ou alguém me ouvisse fazê-lo.

– Diz ao Doug que eu liguei. – Disse, desligando. Mal pousei o telefone, senti uma lágrima cair pelo meu rosto.

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