Chapter Two

em quinta-feira, 11 de outubro de 2012 |
Quase suspirei de alívio quando a aula, finalmente, acabou. Deixei que todos se levantassem, para não parecer estranho se eu começasse a arrumar as coisas sem que me mandassem, enquanto fingia acabar de passar a resolução do último exercício. Fechei o caderno quando a sala já estava quase vazia e pu-lo logo na mochila. Quando me levantei e a pus às costas, vi ainda o mesmo rapaz que havia chegado atrasado a olhar na minha direcção. Ao que parecia, ele não tinha lá muita pressa de sair da aula.
– És nova aqui? - perguntou-me simplesmente. Eu limitei-me a acenar, antes de ficar a olhar para a mão que ele me estendeu em seguida - Sou o Alan Carter.
Olhei-o só, de novo, sem sequer chegar a minha mão perto da dele.
– Renesmee Cullen.
Ele sorriu.
– Tens um nome engraçado.
Franzi um sobrolho para ele. Não sei o que raio tinha o meu nome de engraçado mas pronto. O Jake costumava dizer que era uma espécie de palavrão, mas eu não percebo o que raio as pessoas achavam que tivesse piada no meu nome. Havia algum mal em ter o nome das minhas duas avós num só?
Naquela altura, eu estava a ponderar comigo mesma se deveria dizer a este tal rapaz que me poderia chamar de Nessie, mas achei por bem não o fazer. Primeiro porque ia ser estranho, visto que ele nem me conhecia. Segundo porque a minha mãe matava-o se o ouvisse chamar-me "aquilo" também. Já bem bastavam as pessoas da família.
– E o teu é tão comum que quase me dão dejavus tremendos só de o ouvir.
Ok, Nessie, tens de treinar o repertório das tuas respostas. Como se eu houvesse conhecido muito Alans Carters ao longo da minha vida. Aliás, como se eu tivesse conhecido alguém além da minha família e do Jake ao longo da minha vida, sequer.
– Autch! Essa doeu, sabes?
Tive de me rir. Não que ele tivesse tido piada, mas a cara de parvo que ele fizera, tinha de facto imensa graça.
– És um bocado totó, não? - foi a única coisa que me ocorreu perguntar. Foi a ver de ele se rir.
– Tenho os meus momentos - respondeu-me, simplesmente.


*
A hora de almoço chegou demasiado tarde naquele meu primeiro dia de aulas. Atravessei sozinha meia escola até finalmente chegar ao refeitório, onde os meus (agora) "irmãos" me esperavam numa das mesas mais afastadas do magote de alunos que ali haviam por perto. Peguei no meu tabuleiro, onde depositei o mínimo de comida possível e fui-me sentar ao pé deles.
– Onde andaste tu que não te vimos durante os intervalos? - perguntou-me o meu pai, visivelmente preocupado. Encolhi os ombros.
– Por aí perdida - limitei-me a dizer. Virei a cara para o meu prato de sopa.
– Então e já conheceste alguém? - questionou a minha mãe - Fizeste amigos?
– A minha turma é uma seca. E não, não conheci ninguém.
Por momentos, vieram-me à cabeça os cerca de cinco minutos que passara com Alan Carter à saida da aula de Matemática. Ergui logo os olhos do meu prato quando ouvi o som audível do riso do meu pai.
– Ele é assim tão mau? - perguntou-me. Suspirei. Que raio de mania irritante a dele de ouvir tudo aquilo que eu pensava. Não se podia ter segredos, hoje em dia?
– Posso processar-te por invasão de privacidade, sabias, Edward? - fiz questão de carregar no nome dele para lhe mostrar que não estava nada contente com aquela ligeira intromissão da sua parte.
– Esta estação de rádio não tem botão off. Está sintonizada no canal Renesmee desde que aqui entraste - ergui-lhe um sobrolho. Como se eu acreditasse nisso... - Ok, esteve sintonizada para esses lados desde que cá chegámos, hoje de manhã - acabou ele por confessar.
Virei-me de novo para o meu prato mas desisti de tentar engolir a sopa. A fachada tinha de ser mantida mas não precisávamos de exagerar na dose. Eu odiava sopa!
Mantive-me quieta e calada, ignorando os silêncios que os meus pais mantinham um entre o outro. Sabia que eles olhavam para mim algumas vezes, mas a minha boca manteve-se fechada como uma larva enrolada no seu casulo. Se eles pensavam que me iam arrancar mais alguma coisa, estavam muito enganados! Faltava pouco para eu começar a fazer como a minha tia Alice... Pensar em hinos para que o senhor Edward Cullen não pudesse apanhar o raio do "canal Renesmee".

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