01. Chapter One

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |

A escuridão ainda inundava tudo à minha volta quando acordei. Apesar das minhas pálpebras fechadas, conseguia detectar a ausência de luz no quarto, a penumbra ainda constante estampada nas paredes da divisão que me rodeava. Ainda sentia a cabeça pesada e a vista turva dos comprimidos. Ainda conseguia sentir um familiar toque nos meus cabelos, ao de leve, o mesmo toque que me fez tentar abrir os olhos apesar da dor que conservavam abruptamente. Esse mesmo toque que me acalmava nas noites de mais agonia desde a minha infância feliz. Porque, nessa altura, eu era feliz. Mas hoje, esses dias tinham terminado. A vida era algo terminado para mim. Não fiz mais nada e limitei-me a abraçar o peito da minha mãe ao sentir aquele perfume familiar ao meu olfacto. Os soluços voltaram em força, querendo sufocar-me uma vez mais. Escondendo a cara naquele posto de abrigo quente que era o abraço dela, chorei. Como se, nos seus braços, voltasse a ser a criança que deixara de ser quando as responsabilidades que escolhera para a minha vida me haviam suplantado. Agora, poderia voltar a ser uma criança, novamente. Ninguém me julgaria se me comportasse dessa forma, certo? O toque das suas mãos nos meus cabelos só me deu força para deixar que as lágrimas caíssem com mais força. Para deixar que a dor acabasse comigo um pouco mais. Não havia como voltar atrás para reparar o maior erro da minha vida. E teria de viver com ele, fosse por quanto tempo fosse que ainda me restasse para viver.

*
Ouvia, distante, o som da água a cair sobre o lava-loiça vindo da cozinha. De poucos em poucos minutos, ia tirando uma batata frita do pacote, levando-a à boca sem quase pestanejar, encarando o chão com um ar vazio. Perdido. Ausente. A minha cabeça vagueava a quilómetros inteiros dali, perto de alguém a quem nunca mais iria conseguir chegar. Os calmantes pareciam ter-me tirado do abismo das lágrimas, mas não me levavam a esquecer as imagens. Os flashes familiares não saíam na minha cabeça, fossem quantos fossem os calmantes que tomasse, continuamente. Mas, pelo menos, saberia que tão cedo não me iria esvair em lágrimas novamente. Nas pausas da ingestão de cada batata frita, aproveitava para acender um cigarro e dar um gole longo noutra das latas de Red Bull à minha frente. Tinha de me manter acordada. Tinha de manter os olhos abertos para não ter de enfrentar aquelas imagens horríveis de novo. E talvez o efeito da energia conseguisse confortar-me, animar-me. Não que eu merecesse mas poderia fazer-me sentir melhor. Talvez. Ouvi passos mas não me mexi. Não levantei a cabeça para olhar para a porta, apesar de saber a existência de alguém naquele lugar. Levei novamente o cigarro à boca depois de ingerir mais um gole, ignorando o suspiro dela, especada a fixar-me com aquele profundo ar de pena e preocupação que só uma mãe como ela poderia sentir num momento com este, visto que a filha era um monstro. Continuei a encarar o nada de forma quase doentia.
- Queres... Que peça ao Cameron para passar por cá?
Não respondi. Mantive-me quieta, sem qualquer reacção a respeito daquela pergunta, sabendo de antemão que ela continuaria a falar por não prever bem a minha resposta neste momento.
- Pensei trazer o Jella de volta para não estares tão sozinha cá em casa, o que achas?
Continuei calada, limitando-me a dar mais uma passa no meu cigarro.
- Kristen... Vá lá, não podes ficar assim... - Senti-me ligeiramente mais protegida quando ela se sentou ao meu lado. Mesmo que nada mais houvesse sido feito da sua parte naquele momento, o simples facto de ela ter estado ao meu lado me fazia sentir um pouco de apoio - O mundo não acaba por teres cometido um erro, a vida continua lá fora. Este drama todo vai passar, vai tudo voltar a ser o que era antes. Daqui a poucos meses, já toda a gente esqueceu esta história toda e o assunto será motivo de piada e far-nos-à rir a todos. Vá lá...
Limitei-me a acabar o meu cigarro, enterrando a cabeça nas mãos, seguidamente. Como queria ela que eu acreditasse naquilo?
- Kristen...
Isto não iria passar. Eu tinha feito merda da grossa desta vez. E foda-se... Não havia nada que eu pudesse fazer para remediar o assunto. Só esconder-me e esperar que se esquecessem da minha existência. Abracei os meus joelhos depois de me sentar toda no sofá e deixei que ela me puxasse, uma vez mais, para o seu colo. De novo, fiquei quieta nos seus braços, sentindo-me miserável a todos os pontos, amaldiçoando as minhas acções e tudo o que delas provinha. Só não queria voltar a fechar os olhos. Doía demais ter de vê-lo chorar, de novo.

2 comentários:

  1. Bem bem bem , há quanto tempo eu tinha o prazer de ler algo da menina. Está perfeito mor, como sempre, fico à espera de mais sim :)?

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  2. Obrigada maninhaaa (=
    Fico muito contente q tenhas gostado e espero q as acompanhes todas, vou escrever mais só para tu poderes vir ler e deixares comentários lindos e todos fófis destes kk
    Beijinhooooo* LY 4ever&always Sis*

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